No século XVII os dotes eram muito importantes para os
proprietários paulistas, pois era a partir dele que o novo casal iniciava sua
unidade produtiva. A família se privava de luxos ou de pequenas extravagâncias
para juntar bens preciosos para o dote da filha. Os filhos homens eram
obrigados a trabalhar para ajudar na formação desse dote, o qual era condição
primordial para o fechamento do negócio entre as famílias, ou seja, o casamento
era arranjado pelos pais e o dote era considerado um requisito para a sua
realização.
O dote era algo tão importante que uma jovem ao aniversariar
recebia presentes já com a intenção de aumentar o seu dote. A frase mais comum
que ela ouvia era “Para ajuda do seu dote” ou “Para ajuda do seu casamento”.
A parcela gasta nos dotes por uma família era tão grande que
alguns pais relacionavam vários itens em forma de fração de suas posses. Como
exemplo, vou citar os itens relacionados por um genitor que queria casar sua
terceira filha. Ele prometeu um terço de suas roças, um terço dos porcos que
possuía, uma parcela de suas terras, metade de seu estoque de estanho, a casa
que morava na fazenda, e a casa da cidade, e caso as casas não fossem
satisfatórias, outras seriam construídas ou o dinheiro para que fossem feitas, seria providenciado. A herança das filhas mulheres era infinitamente maior que
dos filhos homens. Um genitor concedeu a sua filha 16 índios, 10 cabeças de
gado e um cavalo com sela, dentre muitas outras coisas, ao passo que para o filho
sobraram apenas 5 índios, 3 porcos e nada mais. Entretanto, muitas filhas
abriam mão de suas heranças por considerarem seus dotes muito altos.
Abaixo segue um exemplo do que era entregue ao novo casal a
título de dote.
𓍭 Parte da
herança da família que coubesse à noiva
𓍭 A própria
moça vestida em cetim preto
𓍭 Dois
vestidos finos
𓍭 Um par de
brincos e uma gargantilha de ouro
𓍭 Uma cama com
seus cortinados e lençóis
𓍭 Um bufê
𓍭 Toalhas de
mesa
𓍭 Trinta pratos
de louça
𓍭 Dois baús
com respectivos cadeados
𓍭 Um tacho de
cobre grande e 1 pequeno
𓍭 Uma fazenda
em São Sebastião, uma roça de mandioca e uma roça de algodão
𓍭 Uma casa na
vila
𓍭 Vinte
ferramentas agrícolas
𓍭 Dois
escravos africanos
𓍭 Trinta
índios
𓍭 Um bote ou
uma canoa com remo
𓍭 Quinhentos
alqueires de farinha depositados em Santos
Filhos
homens só recebiam dotes equivalentes ao das mulheres se se tornassem padres,
já que nunca se casariam, e, portanto, não receberiam dotes provenientes de
suas esposas.
Ao sabermos
disso tudo, i.é, o quão dispendioso era casar uma filha, por que as famílias
queriam tanto promover o casamento delas? O que isso trazia de bom para as
famílias? De acordo com o livro “O desaparecimento do dote” de Muriel Nazzari: ”o casamento constituía evidentemente uma
estratégia empregada para ampliar e consolidar o clã, princípio organizador do
empreendimento militar, político e produtivo. Os grandes dotes estimulavam os
homens a casar-se e os casamentos acrescentavam genros à família, ao mesmo
tempo que ajudavam os filhos a se estabelecer. Sendo assim, o casamento não era
um assunto pessoal, mas sim um assunto de família e isso favorecia a família de
muitos modos. Os casamentos de filhos e filhas davam continuidade a linhagem
dos dois genitores porque no Brasil e em Portugal a linhagem se dava tanto do
lado do homem quanto da mulher. Além disso, o casamento de um filho formava uma
aliança com a família da noiva, acrescida de uma nova unidade produtiva,
instalada, na maioria das vezes, com o dote da noiva. Inversamente, com o
casamento de uma filha a família ganhava um novo sócio, que podia colaborar
para a expansão do empreendimento familiar.”
Se quiser saber mais, entre em contato conosco aqui pelo blog.
Siga-nos!
ASSUNTOS RELACIONADOS
... e muito mais. Confira!
Muito interessante!
ResponderExcluir